Aqui falaremos dos nossos caminhos e, mais importante, dos nossos encontros. Cada traço, cada cor contém uma história, e elas nos revelarão a diversidade de mulheres negras que percorrem suas próprias trajetórias. Cada uma segura a ponta do cordão como quem segura o próprio destino, desenhando no mapa os rastros de suas jornadas.

O primeiro fio se desenrola com a suavidade de quem já aprendeu a caminhar entre fronteiras. É azul profundo, como o mar que a trouxe para cá. A voz de uma das mulheres negras carrega o som das ondas, e sua história começa em uma aldeia à beira do Atlântico. Ela atravessou continentes, trouxe consigo o cheiro da terra molhada da sua infância e a memória das canções que sua avó cantava enquanto trançava seus cabelos.

Mais adiante, outro fio se entrelaça ao dela. É vermelho vibrante, pulsante como o sangue que aquece o corpo. A cor de Safira, que migrou fugindo da fome e do esquecimento, encontrando no novo território a possibilidade de reescrever sua história. Os cordões se cruzam em num ponto específico do mapa, uma praça onde suas vozes se encontraram pela primeira vez, misturando sotaques, misturando dores, misturando forças.

Outros fios se juntam ao tecido que começa a se formar. Há um amarelo queimado, de uma mulher que carrega o nome das suas ancestrais e as cicatrizes de um caminho trilhado com luta. Um verde musgo, de alguém que encontra na terra e no cultivo um jeito de fincar raízes onde antes só havia passagem. Um lilás, que marca o percurso de quem precisou silenciar durante tanto tempo, mas agora tece palavras no ar como forma de resistência.

Cada mulher, ao caminhar, segue segurando a ponta de seu cordão, traçando sua própria história no grande mapa da travessia. E, quando os fios se encontram, os nós que se formam não são laços de prisão, mas de resistência. Pois, ao final de cada caminho, o que realmente importa não é apenas o destino, mas o abraço de quem caminha ao nosso lado.